No dia 8 de janeiro, uma turba invadiu o Palácio Presidencial, o Congresso e a Suprema Corte, numa tentativa descarada de derrubar o governo democraticamente eleito no país. Os golpistas quebraram vidraças e estragaram paredes, violaram tesouros nacionais e agrediram aqueles que tentaram impedir suas ações. No entanto, mesmo que os edifícios nacionais possam ter sido devastados, a cidadania e os valores que esses edifícios representam mantiveram-se firmes.
Não se enganem: esses desordeiros atacaram a própria democracia. A desinformação que proliferou nos anos recentes foi convertida em violência física. Uma retórica extremista foi utilizada para solapar a transição pacífica de poder. Aqueles que disseminam falsas narrativas para solapar a democracia e perpetuar todo tipo de desigualdade sentem seus privilégios ameaçados por processos de mudanças a partir do estado e da sociedade que desafiam histórias e estruturas de exclusão.
Muitas pessoas traçaram paralelos entre esses ataques e a insurreição no Capitólio americano há exatos dois anos. Isso é compreensível. As imagens de turbas desafiadoras e conspiratórias, incitadas por um patriotismo corrompido para invadir as sedes do governo, são chocantes. Elas remetem à crescente instabilidade política, nascida da desigualdade, à disseminação de informações falsas e ao avanço da autocracia que ameaçam as democracias em todo o mundo.
Por mais de seis décadas, a Fundação Ford tem o privilégio de apoiar as aspirações dos brasileiros. Permanecemos comprometidos a estimular a força e a resiliência das pessoas, inclusive dos beneficiários de nossas doações, que têm trabalhado incansavelmente para proteger os direitos e os valores consagrados na Constituição de 1988.
Somos inspirados por aqueles que destemidamente resistem à polarização e à divisão e congregam vozes diversas para afirmar o valor de uma sociedade multicultural unida por aspirações democráticas comuns. Somos impulsionados pelas coalizões multirraciais e feministas que trabalham por uma sociedade mais livre e igualitária, pelas comunidades indígenas que se mobilizam corajosamente por seus direitos, e pelas lideranças de mulheres negras que confrontam o racismo e a misoginia com força e clareza.
Hoje, reafirmamos nosso apoio àqueles que tecem a unidade do país diante de um retrocesso violento. Graças à sua coragem e convicção, o Brasil continua resiliente. As lideranças do Congresso, do poder Judiciário e dos governos estaduais se uniram, independentemente das diferenças partidárias, para condenar esses ataques. E as organizações da sociedade civil estão preparadas para o caminho a seguir: estão organizadas para impulsionar e defender a democracia e a inclusão daqueles que tiveram o acesso às suas promessas sempre negado.
A defesa da democracia nunca foi tão urgente no Brasil e em todo o mundo. Não existe espaço para aqueles que querem restabelecer injustiças que tantos trabalharam tão incansavelmente para demolir. A Fundação Ford permanece comprometida a apoiar os valores democráticos do Brasil e suas instituições e a honrar a dignidade, autonomia e vitalidade do povo brasileiro.